Bianca Hilgert – Advogada
Bianca de Xangô – Ilê de Xangô Midiomi
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De 10 em 10 anos, o IBGE realiza o Censo Demográfico no país. O Censo é uma pesquisa, realizada com a população, que retrata os números do nosso povo e faz os recortes necessários para que o Governo gere políticas públicas de acordo com as características da sua sociedade. A grosso modo, o IBGE está lá, numa cadeira em Brasília, junto com os Ministérios, dizendo quais grupos populacionais precisam “do quê” e “no quê” os governos tem que focar…
O CENSO 2022 está nas ruas e são as nossas respostas a esta pesquisa que vão direcionar as políticas públicas necessárias para todos e todas, conforme suas especificidades, pelos próximos 10 anos. Por isso, é de extrema importância que tu respondas de onde veio, o que és, e o que precisas… Quem é de Axé, diz que é! Não é só uma pesquisa de opinião nem é somente ter orgulho do teu Orixá! É uma maneira de afirmar, mapear, contabilizar e entender todo um povo, e criar e exigir políticas públicas compatíveis com este povo. É por meio do Censo que sabemos as fragilidades de cada recorte, e o Povo de Axé – o Povo de Terreiro – o Povo de Matriz Africana – Umbandistas – Batuqueiros – Quimbandeiros – tem necessidades específicas de enfrentamento à fome, intolerância religiosa, racismo, preconceito, desemprego, entre inúmeras outras necessidades. Por muito tempo, o Censo Demográfico retratava uma população majoritariamente católica ou cristã. Isto é um reflexo do racismo e da intolerância, pois as nossas respostas, ou as respostas de nossos pais, refletiam o medo da marginalização ao assumir nosso culto, de se manter escondidos, num reflexo ainda, dos anos obscuros da nossa História. Por conta disto, temos uma minoria de projetos e políticas que incluam nossa população e precisamos mudar isso! Quando o pesquisador bater na porta, não te declara católico, cristão ou espírita. Católico é quem frequenta e acredita e pratica a fé católica. Espírita é quem acredita, segue e proclama o culto de Kardec. Ao se declarar cristão tu não estás informando ao Governo que tu simpatizas e admiras Jesus Cristo, que também faz parte da fé da Umbanda… mas sim, tu estás dizendo que segues as doutrinas cristãs que regem e são incluídas nas maiores bancadas fundamentalistas do Congresso que nada fazem pelos Povos Tradicionais e ao contrário, tentam criar entraves de todos os tipos para as práticas religiosas (lembrem-se do Abate Religioso, que só foi sacramentado no STF).
Portanto, quando o pesquisador bater na tua porta e perguntar, diz que é DE MATRIZ AFRICANA OU DE TERREIRO OU UMBANDISTA OU DE CANDOMBLÉ OU DE QUIMBANDA, SEJA LÁ COMO ESTIVER A DESCRIÇÃO MAIS PRÓXIMA DO NOSSO CULTO! Não te declara católico, cristão, espírita… isso não tem nada a ver com preconceito com estas religiões: tem a ver com reconhecimento, visibilidade, representatividade, políticas públicas para nosso povo, empregabilidade, saúde, educação, história! Não estamos representados nas bancadas cristãs/católicas/evangélicas e, portanto, não temos retorno efetivo em projetos! Lembre-se de que o pesquisador não é preparado para este tipo de questão: veja as opções da pesquisa! Se a opção mais adequada para nossa condição religiosa for “Candomblé, Umbanda, Quimbanda, Jurema” … confirma esta opção, mesmo que sejas, por exemplo, de uma vertente do “Batuque do RS”… Não aceita que o pesquisador diga que “espírita” é a mesma coisa… que “cristão” é a mesma coisa… porque não é! “Candomblé e Batuque” são iguais? Também, não! Mas, seus povos tem coisas muito em comum: perseguição e ausência de políticas públicas eficazes! Por isso, a resposta deve seguir nossa vertente, nossa origem… e não a origem cristã/católica/evangélica/espírita. Nosso povo é resistência, mas chegou a hora de nos autodeclararmos no CENSO, e de marcar a nossa existência!!!! Não podemos ficar escondidos! Não somos clandestinos! Somos parte da História do Brasil e o Brasil se construiu em cima de muito sangue do nosso povo! Temos que existir para resistir e contar a história dos nossos ancestrais e garantir o futuro e a permanência do nosso Povo nestas terras! Axé!